terça-feira, 5 de novembro de 2013

O bullying de berço, insegurança eterna

Olá, Esbeldades!!!

Conforme falei, eu iria me pronunciar sobre o último post. Na verdade, escrevi um enoooooooorme na sexta-feira, mas ao lê-lo para o meu  marido dizer o que achou, ele me alertou de que eu estava expondo muitas pessoas próximas, o que poderia feri-las. Assim, eu não pestanejei e deletei o post. 

Eu poderia simplesmente ter retirado a publicação e depois ter editado o post, mas a verdade é que enquanto lia o conteúdo para o meu marido, houve momentos em que chorei. Engraçado como a gente se percebe tão vulnerável ao tratar de determinados assuntos, né?

Eu penso frequentemente nisso:  como determinadas coisas ditas e não ditas para mim durante a infância me fizeram ter uma percepção negativa sobre mim mesma.

Minha mãe, considerada linda por TODAS as pessoas que a conhecem, queixava-se do seu nariz. Aos 40 e poucos, ela começou a dizer que era gorda. Agora aos 50 e poucos ela reclama do nariz, do sobrepeso e da velhice. Mas agora isso não me atinge mais. Vou me prender às questões da minha infância.

Quando eu era criança, dos 8 aos 11 anos mais ou menos, eu era gorda, tinha o cabelo esquisito e me vestia de maneira lamentável (para esconder o corpo sem formas femininas e grosseiro). Em casa, eu tinha um irmão pentelho que me chamava de gorda e burra o TEMPO INTEIRO. Não acho que ele fizesse isso para me humilhar; de verdade, não. Sei que ele fazia isso porque tinha um prazer monstruoso em me ver nervosa, irritada, brigando, xingando e o agredindo de alguma forma. Vai entender. rs Enquanto eu dava os meus ataques por ser humilhada diariamente, meu irmão gargalhava histericamente diante do meu quadro. A diversão sincera dele acabava por imunizar as broncas que ele deveria levar. Minha mãe e minha avó não o repreendiam seriamente pois achavam que ele estava brincando. Sim, para ele era uma brincadeira, mas para mim, NÃO. Era sério, era ofensivo, me diminuía... Uma coisa que procuro observar hoje em dia, na administração dos conflitos que minha filha por vezes narra com relação às coleguinhas, não é o teor somente do que é brincadeira para um, mas também, sempre busco saber como o outro reagiu àquela brincadeira. É perigoso olhar um lado apenas da moeda e tomar por garantia que todos estão entendendo a "diversão".

Por conta dos meus frequentes chiliques reativos às brincadeiras do meu (hoje) amado irmão, todos me tinham como geniosa e me comparavam à Mônica da Turma da Mônica. 

Para garantir que eu seria uma pessoa totalmente complexada, meu pai que sempre adotava um apelido original para todas as crianças da família, me apelidou carinhosamente de Tribufu-Bacalhau-Seco, inspirando-se em uma personagem chamada Perpétua de alguma novela que nem me lembro qual era. 

Minha mãe errou feio, coitada! Mas quem não erra? Sei que as intenções dela eram as melhores possíveis ao sair comigo e me dar dicas de que roupas eu deveria usar para "disfarçar a barriga", ou para "criar a impressão de cintura", mas para uma criança de 10 anos a mensagem é clara: 

"Meu irmão diz que sou gorda. Meu pai me chama de Tribufu. Minha mãe me dá dicas de como devo me vestir para melhorar minha aparência. Não sou bonita."

Gente, como eu sofria. 

Aos 13 anos eu já era magra, mas logicamente que só descobri isso quase 10 anos depois. Deixei de usar roupas que eu gostaria, deixei de paquerar rapazes atraentes por achar que não estava à altura deles e deixei de ir à praia um tanto de vezes... E isso não era tudo:  fiquei absolutamente paranoica com tudo que envolvesse a opinião das pessoas a meu respeito - quase nunca fazia aula de educação física na piscina pois não tinha coragem de usar maiô na frente dos colegas. Acha pouco? Que tal essa: eu levei uns 2 anos até conseguir começar a fazer qualquer refeição em uma praça de alimentação pois pensava que alguém da escola (sempre a escola! rs) pudesse me ver e comentar "por isso que está gorda, não pára de comer"... Eu não brincava de nada que tivesse que correr e a cada vez que tinha festa junina na escola eu entrava em crise:

a) se a "tia" escolhesse um gordinho para dançar comigo, era porque eu era gorda
b) se a "tia" escolhesse um feio para dançar comigo, era porque eu era gorda
c) se no dia da apresentação meu par faltasse, era porque eu era gorda
d) se no dia da apresentação meu par e o de alguma amiguinha faltassem e eu tivesse que ser o "cavalheiro" da dupla de meninas, eu achava que a tia tinha me escolhido para tal porque era gorda e meu enorme tamanho configuraria bem o do par masculino.

Engraçado que na escola não lembro de ninguém me chamando de gorda, pelo contrário. Teve uma vez na quinta série, eu devia ter uns 11 anos, que os meninos estavam avaliando as meninas de shortinho na aula de educação física e classificando-as com nomes de sorvetes de acordo com a sua gostosura. Tamanha foi a minha surpresa em ter ficado em terceiro lugar no sabor Tablito!! kkkkkk Só perdi mesmo para Gaby (uma índia lindíssima) e a princesa Jeanne (ela foi o sorvete Milka Max!! uahuahuahauahu).

Mas sério, gente, vocês têm noção do quanto é importante afirmar para uma criança que ela é boa, que não precisa que sua aparência seja melhorada em nada para que seu valor seja reconhecido? Eu tenho...

Esbeldades,

eu deixei de ir à passeios porque era gorda...
eu me privei de alguns romances (por medo de rejeição) porque era gorda...
eu neguei minha necessidades básicas (como a alimentação) porque era gorda...
eu deixei algumas pessoas pisarem na minha cabeça porque era gorda...
eu achei que não era digna de ser amada por alguém atraente porque era gorda...
eu me esforcei para ser uma pessoa melhor  e  mais querida para compensar um triste fato - era gorda... 


Até quando era  magra.

Foram 5 anos de obesidade infantil que marcaram os 10 anos seguintes da minha vida. Quando entrei no Brasas, aos 23 anos, muitas pessoas começaram a dizer que eu era bonita... E de certa forma, a repetição daquelas afirmações (e de pessoas que não me conheciam) acabou me deixando menos desconfortável com a minha aparência. Porém, independentemente do que as outras pessoas me digam, eu só me sinto bem quando estou magra e por alguma obra do destino, eu nunca me mantenho assim por muitos anos seguidos.

Por fim, o que eu gostaria de dizer aqui é que, sim, eu elogio muito a minha filha! Uma vez li uma reportagem que aconselhava às pessoas ao verem uma criança bonita que não a elogiassem pelos seus atributos físicos nem pelos seus lindos acessórios. A matéria encorajava as pessoas a perguntarem sobre livros que as meninas porventura estariam lendo. Eu discordo. Tudo de que eu precisei a minha infância inteira era de um elogio. Não que eu só valorize a beleza da minha filha, sempre procuro atrelar algum atributo físico dela com alguma qualidade de sua personalidade que eu admire: sua afinação ao cantar, sua inteligência, educação, simpatia... Enfim... 

Elogios salvam uma infância e poupam uma vida inteira de crises existencias! :P



Beeeeeeeeeeeeeeeeeijo

Um comentário:

  1. Oi querida!
    Ontem não consegui comentar aqui, uma propaganda se instalou exatamente em cima do campo dos comentários. rs
    Ah eu sofri muito " Bullying" como dizem hoje quando era criança. Hoje o nome está até bonito, na minha época se chamava humilhação mesmo.
    Era pela minha magreza, pelos meus cabelos muito cheios e ressecados, pelos meus olhos arregalados...
    Na época isso me incomodava, e eu jurei para mim mesma que faria cada um deles se engasgarem quando me vissem no futuro. E assim fiz. rs
    Transformei todo aquele sentimento ruim em motivação, me tornei uma mulher vaidosa e hoje muitas dessas pessoas me pedem dicas de beleza, e eu claro, passo tudo errado. kkkkk
    Nunca fui santa e nunca serei. E nem quero. hehehe
    Você é maravilhosa! Linda em cada detalhe!
    Se um dia você foi realmente um patinho feio eu não tenho como saber, mas se sim, você se superou completamente.
    Te adoro viu?
    Abração!

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